Ignaz Semmelweis

Ignaz Semmelweis

Ignaz Philip Semmelweis, nasceu há 200 anos, a 1 de Julho de 1818, em Buda (que em 1873 se reuniria a Peste nas margens ocidental e oriental do Danúbio, respectivamente, para fundar uma só cidade – Budapeste). Fez o curso de Medicina em Viena, onde começou a trabalhar.

Áustria – 1965 – Sc 746

       A sua notoriedade está ligada à investigação sobre a febre puerperal, responsável por elevada mortalidade, e que atribuiu a deficiente higiene na manipulação do parto. Verificou que este problema era mais frequente nos partos efectuados por médicos e estudantes de medicina do que naqueles em que apenas intervinham parteiras. Concluiu que isso podia ser consequência do facto de, tanto médicos como estudantes de medicina, frequentemente fazerem autópsias e ajudas nos partos, quase em tempos consecutivos,  sem que houvesse cuidados de lavagem das mãos entre os procedimentos. Lembremos que estávamos ainda a algumas dezenas de anos das teorias dos germes de Koch e Pasteur. No entanto, já no início do Sec XVI, Girolamo Fracastoro nas suas observações sobre a sífilis (é ele o autor do poema que deu o nome à doença), tinha avançado com uma hipótese que se pode considerar precursora da teoria dos germes.

Hungria – 1987 – Sc 3064

       Um acidente veio dar força às suspeitas de Semmelweis. Em 1847, Jacob Kolletschka, um seu colega, cortou-se com um bisturi no decorrer de uma autópsia, e acabou por falecer. A sua autópsia revelou alterações muito semelhantes àquelas que eram encontradas nas autópsias das mulheres vítimas da febre puerperal. Não são descritas na sua obra que tipo de lesões foram encontradas e que fizeram colocar essa hipótese.

As suas recomendações sobre os cuidados a ter na ajuda ao parto parece não terem sido muito bem recebidas pela comunidade médica, apesar de ter sido notada uma baixa de morbilidade e mortalidade, após a implementação das medidas de higiene que preconizou, quer no que diz respeito aos profissionais, quer na lavagem adequada dos instrumentos utilizados. E em 1849 viu ser-lhe negada a renovação do contrato do trabalho, quer como médico, quer como professor, e foi obrigado a voltar a Budapeste. Naquela época acreditava-se que uns componentes do ar a que se chamava “miasmas”, fossem responsáveis pelo aparecimento de muitas doenças. Podemos dizer que foram mais os que se opuseram à sua teoria do que os que a defenderam. Rudolf Virchow, eminente patologista e voz respeitada na comunidade científica, rejeitou completamente a sua teoria.

RDA – 1968 . Sc 1026

       Em 1861 é publicada a sua obra “Conceito, Etiologia e profilaxia da Febre Puerperal”.

Semmelweis acabou por adoecer gravemente. Uma depressão grave, eventualmente sífilis, com deterioração do estado mental que levaram ao seu internamento num hospital de alienados. Há referência a maus tratos no decorrer do seu internamento, utilização de camisa de forças, e em consequência de feridas causadas, viria sofrer de gangrena, que terá sido a causa da sua morte em 13 de Agosto de 1865, com 47 anos. Alguns historiadores fazem referência a abuso do álcool que terá contribuído para a deterioração das suas capacidades cognitivas. Quanto à forma como foi tratado no hospital de alienados, e sabendo nós como se procedia na época, não custa acreditar que este homem notável tenha sofrido muito.

Hungria – 1954 – Sc 1101

       Nem todos os historiadores atribuem a Semmelweis este papel fulcral na explicação da febre puerperal. Outros nomes são apontados, como Alexaander Jordan (1752-1799), que na sua obra “Treatise of the Epidemia Puerperal Fever of Aberdeen”, descreve o que se passou naquela cidade entre Dezembro de 1789 e Março de 1792. No entanto, nesta obra, quando se refere à prevenção, fala na necessidade de fumigação do ar (ainda a teoria dos “miasmas”), e dedica uma grande parte do seu trabalho à necessidade e ao tempo adequado para a realização de sangrias. As recomendações de lavagem das mãos feitas por Semmelweis só viriam a ser aceites e adoptadas nos finais do século XIX.

Embora Semmelweis seja  o nome mais referenciado quando se fala de febre puerperal, também Oliver Wendel Holmes (1809-1894), apresentou um trabalho à Sociedade Médica de Boston , em 1843, “ On The Contagiousness of Puerperal Fever”, onde diz claramente que uma mulher em trabalho de parto não deve ser atendida por um médico que estivesse a fazer exames post-mortem, e que as mãos deviam ser lavadas com cal clorada. Mas também ele enfrentou a oposição dos seus colegas que se recusavam admitir que fossem eles mesmos os agentes principais causadores da doença. Apesar disso, não desistiu, e veio a publicar outra obra “Puerperal Fever as a Private Pestilence”. Neste trabalho, logo no início afirma:” A doença conhecida como Febre Puerperal é tão contagiosa que, frequentemente, passa de doente para doente, através dos médicos e enfermeiras”. Oliver Holmes foi, apesar destes trabalhos, mais conhecido homem de letras, autor de poesia, romance e ensaios.

Grenada – 1973 – Sc 507

       Há controvérsia no que diz respeito à vida e obra de Semmelweis. Se há quem considere a sua obra como notável, muitos consideram que é muito inconsistente do ponto de vista de dados objectivos e que em boa parte é dedicada a desconsiderar as críticas que lhe foram sendo feitas. Para o médico e historiador Sherwin B Nuland, a sua vida e obra “possui todos os condimentos de uma tragédia sofocliana: um herói, uma verdade, uma missão e uma paixão arrogante que acaba em ruína”.

Ele provou que havia contaminação responsável pelo aparecimento da Febre Puerperal e que isso podia e devia ser evitado. E fê-lo antes de Pasteur mostrar que as bactérias eram responsáveis pela putrefacção, e vinte anos antes de Joseph Lister ter dado o seu enorme contributo para a antissepsia e demonstrar, em 1867, que as infecções das feridas podem ser transmitidas pelas mãos dos médicos. E só no final do sec XIX começam a ser utilizadas as luvas cirúrgicas.

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